sábado, 21 de maio de 2016

O Empratamento Da Sábado


O ministro da educação terá recebido dinheiro indevido da FCT para realizar o seu doutoramento nos Estados Unidos e há um professor, que diz ter sido seu orientador, que o acusa de crime.


O valor notícia parece-me evidente, mas aquilo que me causa mais perplexidade é o empratamento.

A revista teve acesso às cartas trocadas entre Brandão Rodrigues e a FCT, aos documentos que comprovam a atribuição das bolsas e até ao cheque que mostra que Tiago Brandão Rodrigues recebeu dinheiro indevido, mas que o devolveu.

Com todos estes ingredientes, a revista optou por servir aos seus leitores uma entrevista com uma das fontes desta "investigação". Chama-se Rui Carvalho, é professor da Universidade de Coimbra e terá orientado o ministro da educação na tese de doutoramento, desenvolvida entre Espanha, Portugal e os Estados Unidos.

Desta forma a revista Sábado não tem que fazer investigação jornalística, apresenta uma entrevista onde a responsabilidade de tudo o que é dito recai sobre o protagonista dessa mesma entrevista. Ainda assim, depois de muita celeuma (que era previsível, tal a gravidade da situação) a Sábado decide publicar os documentos que comprovam a versão de Rui Carvalho. Mas porque é que a revista, tendo acesso a tantas fontes, não decidiu fazer uma grande reportagem? 

Não conheço, como é óbvio a resposta, mas ela pode estar em tudo o que aconteceu nos dias seguintes à publicação desta matéria: a FCT veio desmentir o crime; a Universidade de Coimbra também veio dizer que nada de ilegal tinha acontecido; multiplicaram-se os exemplos de antigos doutorandos da FCT a quem também haviam sido entregues verbas por excesso, tendo que as devolver depois e levantaram-se questões tão simples como: porque é que o Professor Rui Carvalho só decide falar 14 anos depois do sucedido. 14 anos depois...

Associada a esta pergunta surge o timing. Não será displicente relacionar o sucedido à questão dos colégios privados que durante décadas receberam financiamentos indevidos com o aval de sucessivos governos, quer do PS, quer do PSD, demonstrando o poder de um lóbi fortíssimo.

Parece-me que a revista Sábado ponderou fazer uma grande investigação, mas como as regras do jornalismo obrigam a que se ouçam todas as partes para que no fim seja apurada a verdade dos factos e essa verdade não ajudava a acusar o ministro Tiago Brandão Rodrigues, a revista ficou-se por um singela entrevista que diz aquilo que um jornalista não pode dizer sem provas cabais: que um ministro cometeu um crime. 

Parece-me que foi cometido um erro grave. O jornalismo nunca deve ter outros objetivos que não os de informar. Apenas informar.

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