quinta-feira, 1 de outubro de 2015

"Morrer É Mais Difícil Do Que Parece"

Li por sugestão um texto escrito por Paulo Varela Gomes. Um texto forte que descreve como é difícil um cancro matar um homem agarrado à vida. E como é difícil um homem matar-se quando se encontra com Deus.

Paulo Varela Gomes tem cancro, há mais de dois anos. Não espera viver muito mais tempo e não quis submeter-se aos tratamentos oncológicos. "Decidimos que nunca me submeteria aos tratamentos da medicina oncológica, às suas armas: as clássicas (cirurgia), as químicas (drogas) e as nucleares (radioterapia). Estas armas destroem as defesas próprias do organismo e aceleram frequentemente a sua degradação. Já vi suficientes doentes de cancro entregues nas mãos da oncologia para tremer de horror ao pensar que poderia suceder-me o mesmo."

Tentou matar-se, mas diz que Deus não o deixou. "Coloquei a cadeira junto a uns troncos cortados, sentei-me e, já com os canos da arma na boca, o dedo aflorou o gatilho. Senti o metal como uma coisa sem qualidade, cálida, mortiça, dócil. Tudo me pareceu vagamente ridículo, o meu gesto, os objectos de que me rodeara. Veio até mim mais uma vez o cheiro da hortelã. Ergui os olhos que tinha fixados na guarda do gatilho e vi um pinhal que o sol, através de uma abertura nas nuvens, isolava, dourado, do verde-escuro da encosta. Ocorreu-me de repente uma vaga de alegria inexplicável, como se fosse um sinal da presença de Deus à semelhança daqueles que os textos sagrados referem por vezes. Cheguei à mais simples conclusão do mundo: estava vivo e, enquanto assim estivesse, não estava morto."

Um texto que é um "murro", como João Taborda da Gama o expressou no DN. Publicado originalmente na revista Granta, pode ser lido aqui!

1 comentário:

  1. Lindo! sempre preferi pensar "enquanto há verde, há esperança" e pelos visto o Paulo também

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