quinta-feira, 16 de julho de 2015

O Vício Dos Números

Observador noticia empregabilidade dos cursos das instituições de ensino superior portuguesas em quatro artigos
Se pudéssemos generalizar e dizer que todos os jornalistas eram viciados em alguma coisa, essa coisa seria os números. A ansiedade de quantificar é tanta que, muitas vezes nem olhamos para o verdadeiro valor dos dados apresentados. Falo na primeira pessoa, porque compreendo a factualidade dos números e, de facto não há dados mais objetivos do que eles. Mas, nem só de objetividade vive o jornalista. Um olhar crítico não faz mal a ninguém.

A economia tem avassalado de tal forma a atualidade que, quando falamos em dívida, défice, PIB, taxa de desemprego ou inflação, esquecemo-nos que estes dados dizem respeito a pessoas e que um ajuste no excel pode por as contas a bater certo, mas pode ter implicações sociais terríveis.


As peças são diferentes, mas baseiam-se todas num "documento do Ministério da Educação enviado às instituições de ensino superior". E baseiam-se mal porque estes dados podem ser falaciosos.

Em primeiro lugar, nem todos os graduados estão inscritos nos centros de emprego e, assim, não contam para as estatísticas. Em segundo lugar, a empregabilidade não é analisada à luz da área de formação dos licenciados. Ou seja, um curso que empregue muitos jovens, mesmo que num sector completamente diferente da sua área entra para as estatísticas como um curso com grande empregabilidade.

O Observador é cauteloso ao admitir que "estes dados sobre o desemprego têm de ser lidos sempre com cautela, pois nem todos os desempregados estão inscritos em centros de emprego e, por outro lado, muitos podem estar a trabalhar em ofícios que nada têm que ver com a licenciatura (com ou sem mestrado integrado) que tiraram". Mesmo assim não deixa de dar destaque ao tema com títulos enganadores e com referências inequívocas na Newsletter assinada por David Dinis, o diretor.

Neste caso deve fazer-se uma reflexão sobre qual o objetivo das notícias dos órgãos de comunicação social. Se esclarecer era a vontade dos jornalistas que escreveram estes textos, ela não foi conseguida. E estando nós numa época do ano em que milhares de jovens se preparam para escolher o seu futuro no ensino superior, estas informações podem mesmo induzi-los em erro.

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