quarta-feira, 27 de maio de 2015

Quanto Vale O Futebol

A notícia das detenções na FIFA talvez não nos tenha surpreendido. Ou, se nos surpreendeu, foi pelo tempo que demorou a surgir. A verdade é que o mundo do futebol é muito mais do que a paixão que sentimos pelos nossos clubes ou pela seleção nacional. No entanto, indiretamente, também contribuímos para que o nojo que o futebol é hoje não seja limpo.

Caso contrário o Futebol Clube do Porto já não teria adeptos. É mais do que claro que a corrupção existiu no famoso processo "apito dourado" e, mesmo assim, continuamos a tolerar que as nossas equipas compitam na mesma liga que este clube do norte e, muitas vezes, até olhamos para ele com o respeito que um clube tão medalhado mereceria - caso os títulos tivessem sido ganhos com mérito.

Também nunca nos insurgimos contra as obras colossais que foram levadas a cabo no Brasil para a realização do último campeonato do mundo. Sabemos que aquele é um dos países mais desiguais do mundo, mesmo assim quando joga a seleção, deixamos as convicções de lado.

O futebol é um fenómeno que angaria para o seu núcleo intelectuais de todos os quadrantes que os fazem perder a racionalidade. Na semana passada, no Eixo do Mal da SIC Notícias, Pedro Marques Lopes, Portista ferrenho, tentou justificar a agressão do polícia de Guimarães a um adepto do Benfica desarmado. Apenas por ser benfiquista, concluo eu.

A importância que o futebol tem na sociedade é tão grande que deixámos de criticar atos de corrupção ou despesismo associados a este ópio do povo. Os clubes têm dividas astronómicas que, para além de não serem criticadas, ainda são aceites e quase que alimentadas com as quotas que cada sócio paga uma vez por mês.

É também curioso que Luís Figo surja no meio desta história como o grande homem que saiu do barco porque sabia que ele ia afundar-se. Basta pesquisar o binómio "Figo Sócrates" no Google que percebe-se de imediato que o histórico futebolista não é santo nenhum.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

O Comboio Tem Que Avançar

Quando fui morar para Coimbra, fruto do meu ingresso na universidade, passei a usar os taxis com mais frequência. Era normal esperar mais de 45 minutos por um autocarro cuja viajem durava mais de 20 minutos e ainda ficava a 5 minutos a pé do meu destino. Mesmo sendo Coimbra uma cidade à qual os estudantes regressavam todos os domingos, os SMTUC não conseguiam dar resposta às necessidades e a viagem era feita com o meu nariz a roçar o sovaco de outros estudantes e com os meus pés a servirem de base às rodas do trólei carregado de roupa limpa e caixas de comida para mais uma semana de aulas.

Hoje deve ser igual. Eu já não vou tantas vezes à terra e, quando vou, tento fintar os domingos e os taxis que aumentaram as tarifas para valores que me fazem esquece-los como alternativa na maior parte das vezes que tenho de me deslocar. Mas como Coimbra não tem autocarros à noite ou de madrugada, há vezes que o taxi é a única alternativa. Ou uma chamada para um amigo com carro.

Vejo-me agora surpreendido (talvez espantado, ou admirado) com a ideia que a FPT e a ANTRAL tiveram de taxar os taxis que saem dos aeroportos portugueses em 20 euros. 20 euros são quatro contos, que diabo! Parece que a ideia não foi bem acolhida pelo governo, mas ela só pode ser uma ideia a ter em conta porque o mercado dos transportes públicos individuais é um grande monopólio. Será por isso que dizem que os taxistas são todos salazaristas?!

As associações de taxistas não descansaram enquanto não liquidaram a Uber, uma empresa que assenta num conceito de partilha. Um conceito bem à moda destes novos tempos de smartphones, aplicações, redes sociais e outros que tais. Mas a Uber só pode desaparecer porque um tribunal português assim o deliberou. Na dúvida, em vez de se encontrarem as irregularidades e de se criar legislação para as resolver, optou-se por manter o negócio do transporte público individual em regime de monopólio em vez de se abrir o mercado ao progresso e inovação. 

Sites como a Uber, Blá Blá Car ou Airbnb são a prova de que estarmos sempre ligados, muda a forma como interagimso mesmo ao nível dos serviços que utilizamos. O comboio está em marcha e para-lo, agora, não pode ser bom. Deixa-lo avançar pode conferir a Portugal um lugar na vanguarda dos negócios de partilha.

domingo, 24 de maio de 2015

O Referendo E A Responsabilidade

Parlamento Irlandês, Dublin | ©Cláudia Paiva 2015
Os Irlandeses foram chamados a pronunciar-se sobre o casamento homossexual e disseram sim. Ainda bem.

O método utilizado para se saber se o casamento entre pessoas do mesmo sexo passaria a ser legal ou não foi o referendo. Os eleitores - os mesmos que escolhem os governantes do país - foram chamados a colocar uma cruz num boletim de voto consoante a sua opinião pessoal. 

Há países que levam esta forma de legislar muito a sério. A Suíça, por exemplo, usa e abusa das opiniões populares. É uma forma de desresponsabilização dos políticos que, desta forma, colocam o ónus do lado dos eleitores.

Ora, se os políticos são eleitos, para bem da saúde democrática, devem se-lo com base em programas políticos detalhados e devidamente escrutinados. Depois disso, devem ser responsabilizados pelos seus atos comparados com as propostas eleitorais.

Não tendo particular afeto por uma forma de legislar direta como são os referendos, compreendo a sua utilização em alguns momentos. Não concordo, mas compreendo. A questão escocesa e catalã são ótimos exemplos. Uma vez que são decisões que afetam diretamente os cidadãos, percebo que eles sejam auscultados.

Portugal é um exemplo de má utilização do referendo. Perguntaram-nos se, mesmo não estando a pensar engravidar, aceitaríamos o aborto, mas não nos perguntaram se queríamos ser cidadãos europeus, com todas as consequências que daí advieram.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Como Nasceu A Imprensa? ▷

em Porto, Portugal
© Cláudia Paiva, 2015 - Museu Nacional da Imprensa, Porto
"Aquele ali em cima é Gutenberg. O inventor da imprensa", conta Silvino Nicolau às cerca de dez crianças que o rodeiam sentadas em puffs coloridos. É o aniversário da Margarida e os pais quiseram que a festa fosse feita perto de punções, matrizes, moldes, componedores, galés, galeões, ramas, e outros tantos metais fundidos.

Não vai ser possível decorar os nomes de todos os componentes e muito menos ficar com a percepção da importância que a imprensa teve para a evolução do conhecimento. Mas vai ser possível sujar as mãos de tinta preta.

O Museu Nacional da Imprensa quer que os visitantes se sintam verdadeiros linotipistas, alinhem os linótipos, imprimam e fiquem com a recordação do dia passado no museu: um impresso à moda antiga.