quarta-feira, 1 de abril de 2015

O Regime Ajardinado

©Expresso
Os resultados das eleições na Madeira confirmam que embora o Jardim tenha perdido a sua mais esbelta flor, ainda há seres clorofilados que têm o seu lugar ao sol. É o caso de Miguel Albuquerque que poderá fazer a fotossíntese sem precisar que o CDS lhe dê o dióxido de carbono e a água necessários ao processo.

Comparada com o retângulo a Madeira é uma espécie rara. Lá a política faz-se a uma velocidade e a um tempo diferentes. Faz-se ao mesmo ritmo que se fazia em Portugal antes de 74. Há muito que as eleições regionais deixaram de ser notícia relevante. Os madeirenses iam a votos e no fim ganhava sempre o mesmo. Alberto João Jardim chegou mesmo a demitir-se e a recandidatar-se logo a seguir para ganhar com nova maioria absoluta. Chegados aqui, a única notícia de relevo chegada do arquipélago era mesmo a mudança de líder do partido. Tal e qual um regime totalitário.

Jardim esteve mais tempo no poder do que Salazar. Os madeirenses quiseram-no, talvez porque tivessem medo. Mas quiseram-no. A partir daqui tudo o que acontecer de bom ou mau na ilha será indissociável do estadista gaiteiro e dos que o elegeram.

Desde domingo o PSD teve uma maioria absoluta, deixou de a ter durante duas horas e depois recuperou-a. Vamos por partes. No domingo, quando o partido laranja ganhou mais uma eleição com maioria absoluta, os comunistas pediram uma recontagem de votos. A vitória exígua deixava dúvidas no ar ao PCP que, com apenas 5 votos revalidados na sua candidatura, poderia retirar a maioria absoluta ao PSD.

Ao final do dia de hoje confirmou-se. Os comunistas deram saltos de alegria. "Este é um dia histórico para a Madeira e para os madeirenses", afirmou Leonel Nunes depois de conhecidos os resultados. No entanto, a opinião dos comunistas alterou-se. Não será um dia histórico porque, afinal, houve um erro informático e o PSD recuperou a maioria absoluta.

Daniel Oliveira - que aprecio e por quem tenho estima intelectual - escreve hoje no Expresso sobre a "boçalidade" do regime liderado por Alberto João Jardim como se ele fosse o único mal daquela ilha. E não é. O grande mal da Madeira são os madeirenses porque sempre viveram encostados a um regime sem o criticarem ou o deporem. 

É frequente ouvir-se, não apenas na Madeira, mas também lá, que "ele roubou muito mas deixou obra feita" como se fosse uma espécie de desculpa para as anormalidades que se cometem na política. Na realidade os povos só são oprimidos até quererem ou até não aguentarem mais. E, sejamos honestos, os madeirenses tinham mais armas que os portugueses no Estado Novo para derrubarem um regime corrupto e opressor. Não o fizeram porque viviam bem com ele.

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