quinta-feira, 30 de abril de 2015

O Jornalista Ocidental

© Ilustração de Faber, Luxemburgo
Mal ele entra, a sala ilumina-se. Usa calças de caqui com muitos bolsos, cheios de biscoitos que distribui generosamente entre os miúdos de tez escura, quando sai numa das suas missões. (...) Que o torna tão especial? Não é apenas o passaporte e o facto de ter nascido no lugar certo. (...) O jornalista ocidental é o portador da luz da verdade que ilumina as trevas que não compreendemos. (...)

(...) As reportagens só adquirem sentido se forem narradas segundo o prisma da complexa personalidade do jornalista ocidental. (...)

(...) Tem estilo, sem ser um concorrente sexual ameaçador. É bonito sem ser giro e bem informado sem ser pretensioso. (...) passeia-se com o ar de quem sabe o que quer. (...)

(...) Porque és tão espetacular? Que devemos fazer para ficarmos parecidos contigo? (...)

(...) Longe vão os tempos em que a missão do jornalista ocidental era relatar factos e acontecimentos: hoje, ele ou ela têm de ser a encarnação da vocação humanitária que caracteriza a cultura ocidental contemporânea. Nós, os outros, ainda estamos longe disso.(...)

Ironia do cronista iraquiano-libanês, Karl Sharro, publicada no blogue Karl Remarks. Traduzida para a revista Courrier Internacional (nº231\maio2015) por Fernanda Barão.
Karl Remarks é o blogue em língua inglesa mais lido no médio oriente. O autor do blogue (e deste texto) vive em Londres.

terça-feira, 28 de abril de 2015

Dublin In Seconds ▷

em Dublin, Irlanda
© Diogo Pereira, 2015 - Trinity College, Dublin
A Europa está cada vez mais acessível graças a uma companhia aérea que partilha bandeira com a capital da Irlanda. A Ryanair voa para centenas de cidades e Portugal é um dos países com mais destinos disponíveis. Um deles é a cidade de Dublin. Voa-se a partir de 20 euros. E vale a pena.

Os cerca de 525 mil habitantes colocam-na ao lado de Lisboa em termos de dimensões. Já no que diz respeito ao clima, não há comparação. No dia de partida, no final de fevereiro de 2015, a diferença entre Lisboa e Dublin era de 9ºc.

Os destaques desta cidade passam pelos museus que já foram fábricas de cerveja e whisky, a biblioteca do Trinity College, os jardins, os bares com música ao vivo e muito mais.

Descobrirmos Dublin em 52 segundos.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

"Pimenta No Cu Dos Outros É Refresco"

É José Luís Peixoto quem empresta o título a este texto. A crónica, na Visão, mostra a perplexidade, ou talvez raiva. Quem sabe resignação. Não sei. É confuso falar dos outros, quando nos incluímos no seio desses mesmos outros. Mas não gostamos de fazer parte da equipa. Queremos sair dela. Não podemos. Somos iguais.

"Como se sentirão os prejudicados pelos bancos perante esse silêncio coletivo, esse abandono? E já que estamos em maré de perguntas: o que fariam esses mesmos indivíduos se não fossem eles os prejudicados?" pergunta José Luís Peixoto ao olhar para o rosto de alguns prejudicados pelos bancos em protesto mostrado pela televisão.

Vem-me à ideia o valor do humano. Quanto vale uma pessoa? Se nos animais essa avaliação é feita pela raça, o pedigree, a qualidade dos pastos ou a virilidade; nos seres humanos o local de nascimento é muito mais influente. O quilo de humano é muito mais caro no hemisfério sul e os ocidentais são os que batem valores record. E um oriental? É ao preço de uma gamba numa esplanada de Antananarivo.

Quanto vale cada um dos 800 que foram engolidos pelo mediterrâneo? E quanto vale cada um dos 12 que morreram em Paris? 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

A Santa Que Não É Santa ▷

em Aveiro, Portugal
Museu de Aveiro, ©Diogo Pereira, 2015
O Museu de Aveiro é muito mais conhecido pelo nome da sua mais famosa inquilina. Santa Joana. Esta infanta, carismática e enigmática viveu por ali os seus últimos tempos, em clausura. Porque aquele lugar, antes de ser museu, foi um convento. O Convento de Jesus.

Joana consegue ainda outra proeza curiosa. É padroeira da cidade de Aveiro, mesmo sem ser reconhecida pela Igreja Católica como santa. Beata é o seu único título, concedido pelo Papa Inocêncio XII EM 1673. Mas o povo continua a acarinha-la e a atribuir-lhe alguns milagres.

No acervo deste espaço concentram-se, essencialmente, as obras herdadas do convento que por ali existiu, sendo o túmulo de Joana a atração mais relevante. Embora seja hoje um museu, está frequentemente aberto para o culto religioso.

sábado, 18 de abril de 2015

Quem Manda Mais?

© TSGT ANNA HAYMAN, USAF, Wikipédia


O governo de Passos Coelho foi eleito com a privatização da TAP no programa de governo do seu partido. Este assunto é, aliás, muito caro aos partidos com maior representação parlamentar porque por diversos momentos já quiseram a privatização da companhia. Conclusão: se os partidos que apoiam a venda a privados da transportadora aérea nacional têm relevância suficiente na Assembleia da República estão, por isso, legitimados para levarem o processo adiante.

A legitimidade de efetuar a privatização não esgota a discussão. É óbvio que quem não votou nos partidos que a defendem ou quem, tendo votado nos partidos que a defendem, não concordam com ela, tem o dever de mover os esforços possíveis para fazer valer a sua opinião. É o caso do movimento "Não TAP os olhos".

Vendo legitimidade em qualquer cidadão português em não querer a venda da TAP, não reconheço qualquer direito superior aos trabalhadores da empresa. A questão da opinião individual não está em causa, o que está em causa é a utilização de recursos laborais para fazer contra poder ao poder democraticamente eleito.

O que está a acontecer com a recém criada greve dos pilotos da TAP é uma claríssima estratégia política para travar um processo legítimo. Como refere João Garcia na sua crónica no Expresso, não se compreende como é que os trabalhadores desta empresa não gostam do seu atual patrão, mas estão a fazer de tudo para continuarem com ele.

Os sindicatos servem para apoiar os trabalhadores na sua luta laboral. Embora o Partido Comunista queira, os sindicatos não servem para encostar o estado à parede. Ser prejudicado por uma greve dos trabalhadores da TAP que contesta a privatização da companhia quando ela foi sufragada, é a mesma coisa que um conjunto de cidadãos decidam conduzir um comboio em dia de greve. Pro bono.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Estará O Público A Gestar Um Irmão Brasileiro?

Logotipo do Público com as cores brasileiras usado como foto de perfil do Facebook "Público Brasil"
O Brasil é a sétima economia mundial. Falamos a mesma língua. Temos Know how

Os 3 factos aqui elencados podem ser o ponto de partida para o jornal Público fazer o mesmo trajeto que Pedro Vaz de Caminha fez em 1500. Mas se pensarmos que o navegador português não fez o caminho sozinho, podemos até pensar que, embora por cabotagem, a navegação já começou.

5 de março de 2014. Adriana Calcanhotto toma a cadeira de Bárbara Reis e assume a direção do jornal por um dia. A artista brasileira delineia o conteúdo do jornal que tradicionalmente tem um diretor diferente no seu aniversário e torna-se embaixadora do Brasil em Portugal. O facto de ser brasileira podia ser apenas um pormenor, mas não. Adriana Calcanhotto diz querer quebrar os clichés e "complicar o Brasil" no Público.

A edição comandada pela brasileira inaugura um ciclo do jornal português. A esse ciclo é dado o nome de "Ano Grande do Brasil". Logo a seguir são enviados 7 jornalistas para descobrirem o Brasil. Caminharem pelo seu interior e contarem estórias com sotaque. Chamam-lhe "Brasil na Estrada" e quase diariamente o mapa carioca vai ganhando novas entradas com recursos multimédia.

2014 foi o ano ideal para o Público descobrir o Brasil. Os campeonatos desportivos, as eleições brasileiras, os protestos anti corrupção e a preparação para os Jogos Olímpicos de 2016. Não faltaram temas. 

Ainda dentro do "Ano Grande do Brasil" o jornal português decidiu começar a fazer a ponte entre os dois países iniciando uma iniciativa que teve a primeira edição em 2014, mas, já se sabe, vai repetir-se em 2015. "Vinhos de Portugal no Rio" casou o Público com O Globo e foi exaltar o elixir português.

O laço da literatura também foi apertado, mas desta vez noutra cidade. Um pouco mais a sul. São Paulo. "Minha Língua, Minha Pátria" junta o Público a uma livraria paulista sediada num dos centros comerciais "mais chiques da cidade" e convida especialistas e autores dos dois lados do Atlântico.

Antes ainda da literatura o jornal de Belmiro de Azevedo anunciava a entrada num dos sites de notícias mais visitados do Brasil: UOL.br. Dizia a parangona que o jornal português passaria a estar disponível para um "universo de 50 milhões de leitores". Para marcar a presença foi lançada, em 26 de março de 2015, a página de Facebook "Público Brasil" que veste verde e amarelo.

São muitas mais as evidências da forte presença do Público no Brasil. As reportagens especiais, os dossiers interativos como "O Brasil é" e até a existência de Simone Duarte, diretora adjunta que é brasileira e conhece bem a realidade do país e do mundo, incluindo o universo lusófono, fruto da sua experiência profissional como jornalista e alta funcionária da ONU.

Embora o meio jornalístico esteja pelas ruas da amargura, talvez não tarde uma informação sobre o futuro do Público no Brasil. Quem sabe uma edição impressa mais exótica na palavra, seguindo o exemplo do El País que em novembro de 2013 lançou uma edição em português.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Jornalismo Sem Sensacionalismo

1 hora e 35 minutos de Ana Leal, TVI, 13.4.15
As urgências hospitalares têm estado nas manchetes dos jornais por causa de uma alegada sobre lotação dos espaços de internamento e dos elevados tempos de espera de atendimento depois da triagem. Os cortes orçamentais de que estamos fartos de ouvir falar são o motivo para o caos que foi hoje retratado pela jornalista Ana Leal no programa de reportagem semanal Repórter TVI.

O tema da saúde é caro aos portugueses sendo utilizado como bandeira e arma de arremesso político pelos partidos da oposição. É também um tema propício ao entretenimento, no pior sentido do conceito. Porque o público gosta de sangue. Nada melhor do que ver um carro desfeito, uma mancha de sangue, um olhar sofrido, lágrimas no rosto, um grito desesperado, um corpo morto.

Ana Leal procurou concentrar-se naquilo que deve ser o papel do jornalismo sério. Contar uma estória com frontalidade, ouvir as queixas, procurar as justificações e mostrar. Tornar público o que deve ser público. E o que deve ser público não é o drama alheio, o sofrimento desesperado ou a inércia sem apoio. Não deve ser notícia um grito desesperado e sem raciocínio.

1 hora e 35 minutos mostra sem ofender. Mostra sem humilhar. Afinal, jornalismo com dignidade é jornalismo sem sensacionalismo. E assim é que deve ser.

sábado, 11 de abril de 2015

O Bom E O Mau É O Que Eles Quiserem

"A Oeste nada de novo" de Lewis Milestone (1930)
A Guerra parece ter deixado o imaginário e o diretório de pesadelos de muitos. Pelo menos até à intervenção russa na Ucrânia. No entanto é um dos melhores exemplos de como as decisões de um governo interferem na vida das populações.

Em tempos de crise estamos mais do que habituados a sentir aquilo que nos jornais se diz com palavras complexas e indicadores sociais e económicos confusos. Não sabemos ao certo o que quer dizer swap, papel comercial ou inflação. Estes conceitos têm em nós o mesmo efeito que os medicamentos. Não sabemos o contêm, mas sentimo-nos melhor quando os tomamos. Ao contrário dos medicamentos, estes conceitos têm em nós efeitos daníficos.

Tem sido também recorrente ouvir políticos e demais individualidades dizer que o país está a caminhar no sentido certo. Inclusivamente as instituições europeias dão-nos nota máxima. No entanto, aquilo que sentimos não é propriamente isso.

Em comparação com aquilo que os políticos dizem, e aquilo que verdadeiramente é a realidade, vi esta semana o filme "A Oeste nada de novo". Um filme de 1930. 

Lewis Milestone conta a história de Paul Baumer, um jovem que, aguilhoado pela necessidade de combater os adversários e pelo espírito nacionalista, decide ir para a frente de combate com os seus colegas de escola.

Cedo estes jovens perceberam que a guerra não era o que os demais afirmavam. Paul percebeu melhor que todos os outros porque teve que confrontar-se com a perda. A perda de quase todos os seus amigos de escola.

Lewis Mileston critica veementemente a prática usada para incentivar os jovens a partir para o combate e mostra que a guerra se faz porque as lideranças assim o determinam. Quem está no "front" combate o seu semelhante. Semelhante não só por também ser um ser humano, mas porque também pensa que a guerra é inútil para quem a combate.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Segundo Avança O Site Dioguinho.pt

Diário de Notícias cita o site dioguinho.pt
A classificação de um bom jornalista tem vários níveis. A sua credibilidade mede-se, por exemplo, pelo seu historial. Ou seja, um jornalista é bom se tiver dado provas da sua qualidade em trabalhos anteriores. A sua credibilidade mede-se também pela postura que toma nas redes sociais. Se fôr um incendiário nas opiniões que emite, talvez tenha crédito por parte do mesmo tipo de público que dá crédito ao trabalho praticado no Correio da Manhã. A sua credibilidade mede-se também pelas suas fontes. Um jornalista pode ter mais ou menos valor consoante as informações que consegue através das suas fontes.

Embora a qualidade de um jornalista possa merecer mais abordagens ou níveis de avaliação creio que estes são três pontos essenciais e, depois de ler esta notícia  no Diário de Notícias fica a dúvida: o site "dioguinho.pt" segue um estatuto editorial que lhe mereça referência num jornal com mais de 150 anos de história?

O jornalismo está a ver o seu trabalho ser feito por outros e não tem uma única reação. O Público deve ser livre de escolher os locais em que pretende informar-se. Acredito nesta premissa porque acredito que o jornalismo pode vir a ganhar esta guerra se a combater com liberdade.

Não quero ler notícias destas: "segundo avança o site dioguinho.pt" ou talvez, "de acordo com o Ainanas", ou ainda, "ao que o Tá Bonito conseguiu apurar".

A primeira citação é a única original. Mas se isto pega moda vamos ver escritas a segunda e a terceira e até outras. Tenham medo, muito medo!

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Manoel

© Diogo Pereira, 25.11.13 - Teatro Académico de Gil Vicente, Coimbra


Faltava precisamente um mês para o Natal de 2013. Completavam-se 350 anos desde que o Padre António Vieira havia proferido o seu único sermão na Capela de São Miguel, na Universidade de Coimbra. Lima Duarte, ator brasileiro, era a estrela que do alto da capela proferia o sermão de Santa Catarina.

Não cabia mais ninguém na pequena capela, vizinha da velha Joanina. Acorreram às centenas, senão mesmo aos milhares, as pessoas que queriam ver de perto Lima Duarte dizer António Vieira. Os lugares eram poucos para as vontades. Muitas foram contrariadas e acabaram por ter que ver e ouvir as palavras com 350 anos nos ecrãs do auditório da Universidade.

Aberta uma exceção, parou um carro junto à entrada da capela. Com ajuda, saiu do seu interior Manoel de Oliveira. O cineasta estava cansado. Embora tivesse andado nos últimos dias por essa Europa fora, Manoel fez questão de estar presente naquele dia em Coimbra para acompanhar tão importante dia. Durante a tarde não teve qualquer intervenção. Mas foi muito abordado na alta universitária. 

Quando o sermão terminou foi diretamente para o Teatro Académico de Gil Vicente. Enquanto o reitor da Universidade de Coimbra, a vice reitora, Lima Duarte, diretores do Gil Vicente e demais organizadores e participantes do dia de comemorações jantavam no primeiro piso, Manoel jantava num dos camarins à entrada do palco. Omelete de claras, foi o jantar de quem o estômago e as pernas já não toleram grandes repastos.

Manoel de Oliveira estava ali para, com Lima Duarte, apresentar o filme "Palavra e Utopia" em que o ator brasileiro havia sido protagonista. A sala não estava cheia. Nem a meio. Não era justo ninguém querer cumprimentar a história.

A sessão não começou a horas. Teve um atraso de 20 minutos. Durante este tempo caminhei para a frente e para trás na sala branca do TAGV. Esperava poder fotografa-lo antes de entrar no auditório. O mestre apareceu, finalmente. Não me pareceu gostar de fotografias. Perguntou porque queria eu fazer aquilo. Expliquei que queria ter uma fotografia de mais uma passagem do mais antigo cineasta português pelo TAGV. Não sabíamos se seria a última. Mas era muito provável que fosse. E foi.
© Diogo Pereira, 25.11.13 - Teatro Académico de Gil Vicente, Coimbra

Depois de me autorizar a tirar não mais que duas fotografias - estava notoriamente enfadado dos flashes e do burburinho do dia - levantou o braço e ordenou-me que parasse. Acompanhei-o até ao interior da sala. Pelo caminho um jovem aperta-lhe a mão e agradece-lhe a obra que construiu. Manoel sorriu. Claro que gostava que o elogiassem.

Já dentro da sala, antes do início do filme, Manoel tem a palavra. Trémula a sua voz disse não ser fácil ter 104 anos. 

Quando terminou o seu discurso não quis ser aplaudido sozinho. Caminhou o mais rápido que as suas pernas permitiram e foi buscar pela mão Lima Duarte. Queria dividir com ele os aplausos. Depois, sentaram-se juntos e assistiram mais uma vez ao "Palavra e Utopia". Foi a última vez.
© Diogo Pereira, 25.11.13 - Teatro Académico de Gil Vicente, Coimbra

"Viajar Pelo Planeta Sem Sair Da Cidade" ▷

em Coimbra, Portugal
Estátua a Avelar Brotero, naturalista e botânico, © Cláudia Paiva, 2015
"Visitar um jardim botânico é como viajar pelo planeta sem sair da cidade". É com esta frase que começa a descrição do Jardim Botânico num texto publicado na página oficial da Universidade de Coimbra. Este, em concreto, fica muito perto de mim e é um luxo poder visita-lo sempre que quero. 

Na continuação do texto conseguimos conhecer um pouco melhor a história deste espaço que chegou até Coimbra pelas mãos do Marquês em 1772 e que se estende por mais de 13 hectares. Criado para aprofundar o estudo da medicina e da história da natureza o Botânico de Coimbra reflecte  também aquilo que foi o périplo português pelo mundo.



▷ Outros vídeos:

 

quarta-feira, 1 de abril de 2015

O Regime Ajardinado

©Expresso
Os resultados das eleições na Madeira confirmam que embora o Jardim tenha perdido a sua mais esbelta flor, ainda há seres clorofilados que têm o seu lugar ao sol. É o caso de Miguel Albuquerque que poderá fazer a fotossíntese sem precisar que o CDS lhe dê o dióxido de carbono e a água necessários ao processo.

Comparada com o retângulo a Madeira é uma espécie rara. Lá a política faz-se a uma velocidade e a um tempo diferentes. Faz-se ao mesmo ritmo que se fazia em Portugal antes de 74. Há muito que as eleições regionais deixaram de ser notícia relevante. Os madeirenses iam a votos e no fim ganhava sempre o mesmo. Alberto João Jardim chegou mesmo a demitir-se e a recandidatar-se logo a seguir para ganhar com nova maioria absoluta. Chegados aqui, a única notícia de relevo chegada do arquipélago era mesmo a mudança de líder do partido. Tal e qual um regime totalitário.

Jardim esteve mais tempo no poder do que Salazar. Os madeirenses quiseram-no, talvez porque tivessem medo. Mas quiseram-no. A partir daqui tudo o que acontecer de bom ou mau na ilha será indissociável do estadista gaiteiro e dos que o elegeram.

Desde domingo o PSD teve uma maioria absoluta, deixou de a ter durante duas horas e depois recuperou-a. Vamos por partes. No domingo, quando o partido laranja ganhou mais uma eleição com maioria absoluta, os comunistas pediram uma recontagem de votos. A vitória exígua deixava dúvidas no ar ao PCP que, com apenas 5 votos revalidados na sua candidatura, poderia retirar a maioria absoluta ao PSD.

Ao final do dia de hoje confirmou-se. Os comunistas deram saltos de alegria. "Este é um dia histórico para a Madeira e para os madeirenses", afirmou Leonel Nunes depois de conhecidos os resultados. No entanto, a opinião dos comunistas alterou-se. Não será um dia histórico porque, afinal, houve um erro informático e o PSD recuperou a maioria absoluta.

Daniel Oliveira - que aprecio e por quem tenho estima intelectual - escreve hoje no Expresso sobre a "boçalidade" do regime liderado por Alberto João Jardim como se ele fosse o único mal daquela ilha. E não é. O grande mal da Madeira são os madeirenses porque sempre viveram encostados a um regime sem o criticarem ou o deporem. 

É frequente ouvir-se, não apenas na Madeira, mas também lá, que "ele roubou muito mas deixou obra feita" como se fosse uma espécie de desculpa para as anormalidades que se cometem na política. Na realidade os povos só são oprimidos até quererem ou até não aguentarem mais. E, sejamos honestos, os madeirenses tinham mais armas que os portugueses no Estado Novo para derrubarem um regime corrupto e opressor. Não o fizeram porque viviam bem com ele.