terça-feira, 17 de março de 2015

O Prisioneiro 43

© El Mundo, 15.3.15
O jornalista espanhol Javier Espinosa utiliza 5 páginas do suplemento semanal Crónica do jornal El Mundo (9214) para relatar o que viveu durante os 194 dias que forçosamente se entregou aos radicais do Estado Islâmico (vou abster-me de preceder o nome Estado Islâmico de autodenominado).

Nas páginas, carregadas de sensações fortes, Javier Espinosa conta como foi ser capturado juntamente com o seu reporter fotográfico, Ricardo García Vilanova e como foi conviver com James Foley e John Cantlie nos seus últimos dias de vida.

A história que hoje se apresenta deveria ter sido relatada há mais de um ano, altura em que os jornalistas foram libertados. Não o fizeram. Ameaçaram matar os reféns que ficaram em cativeiro, declara Casimiro García-Abadillo, diretor do El Mundo e confirma Espinosa na sua crónica.

"O fio da espada roçava-me a jugular. Os Beatles – era esse o nome que usávamos para nos referirmos aos três militantes – sempre gostaram de testar-nos. Sentaram-me no chão. Descalço. Com a cabeça rapada. Uma barba imensa e um uniforme laranja que celebrizou, tristemente, a prisão norte-americana de Guantánamo. John tentou aumentar o dramatismo. Acariciava-me o pescoço com o aço sem deixar de falar." 

É desta forma que o jornalista começa a contar a terrível situação porque passou acrescentando que, depois disto, foi-lhe apontada uma arma à cabeça e o gatilho foi premido. Três vezes. Apercebeu-se de que não estava morto quando ainda respirava. "Chama-se falsa execução", esclarece. Embora tenha visto o carrasco carregar a Glock, ela estava bloqueada. Mas Espinosa não sabia.

Espinosa vestia um uniforme laranja. Tinha o número 43 e era uma réplica do fardamento dos prisioneiros de Guantanamo. 

Não havia espaço a perdões ou arrependimentos. Embora James Foley e John Cantlie tenham afirmado ser  de origem Paquistanesa, acabaram mortos sem piedade por verdadeiros ocidentais sem escrúpulos.
© El Mundo, 15.3.15
"Sentes? Está frio, não está? Imaginas a dor que sentirás se eu tu cravar? O primeiro golpe cortar-te-ia as veias. O sange misturar-se-ia com a saliva..."

Esta é a frase destacada por El Mundo para anunciar a crónica de Espinosa. A publicidade perfeita. Parece até um daqueles casos em que os jornais dão a primeira página aos anunciantes. 

Neste caso o anunciante chama-se Estado Islâmico. Não paga pelo anúncio. Não quer vender nada. Quer, apenas, ter reconhecimento pelos atos que leva a cabo.

Assim como a morte de James Foley e John Cantlie serviram uma audaz campanha publicitária, também a libertação deste jornalista serve o mesmo propósito. É bom matar. Impressiona. Mas também é bom libertar. Comove.

A situação que se vive naquelas zonas do Iraque e da Síria é mais do que uma guerra de armar protagonizada por terroristas. É a utilização dos meios de massa como nunca foi possível até aqui. Os média, neste momento, são apenas a arma do crime porque não podem controlar o que circula e contornar simplesmente o que se passa não é opção.

O jornal espanhol El Mundo fez uma transposição da crónica de Espinosa para o seu site com elementos novos como vídeos e infografias. Pode ser acedido aqui!

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