quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A Vida Gelada De Iasi

em Iași, Roménia
De acordo com os dados fornecidos pela Wikipédia acredito que Iasi seja uma cidade com as mesmas dimensões do Porto. O número de habitantes e de área são as únicas semelhanças. Embora na Invicta o tempo também seja instável, por vezes, nada que se compare com a queda acentuada de neve que assistimos na capital da Transilvânia. 
Esta é a primeira característica que salta à vista: o frio. Mas não é preciso pisar o solo de Iasi para chegar a esta conclusão. Já em Bucareste era assim. Mas o certo é que nos 9 dias que estive na ponta Este da Roménia só vi nevar duas vezes. Neve que bastasse para deixar as rodas dos carros escondidas, os passeios intransitáveis, o chão escorregadio e a paisagem completamente alterada. No dia em que cheguei ainda não tinha caído neve durante todo aquele início de Inverno. Mas o certo é que bastou um primeiro dia de neve intensa, sem parar, para acordar numa cidade completamente diferente.
Como é compreensível não é fácil andar na rua em Iasi. A menos que bem agasalhados. Mas se na maioria das cidades portuguesas os fortes declives que as caracterizam me obrigam a preferir transportes públicos em vez de andar a pé ou de bicicleta, por exemplo, nesta fria cidade é o gelo que se acumula no chão que me tira a vontade de andar a pé. Para fazer uma distancia curta optei por usar o elétrico, muito parecido aos nossos de Belém. Ao entrar, e antes de validar o bilhete numa máquina antiga que corta, literalmente, os bilhetes, como se estivéssemos no século passado, desaperto o casaco e tiro o gorro e luvas. A climatização faz-se sentir eficazmente. Embora o sistema de validação de títulos de transporte, e o próprio transporte sejam anacrónicos não fata, no interior um plasma que mostra o circuito do eléctrico no mapa da cidade e alguma publicidade não a marcas conhecidas mas àquilo que parecem ser pequenas empresas. Mesmo lojas de bairro. O regresso a casa não parece correr tão bem. Já passa das seis da tarde (é de noite desde as quatro e vinte) e as lojas de venda de bilhetes já estão fechadas.
Embora a pobreza seja evidente nas ruas, com pedintes em cada esquina, Iasi não deixa de ter inúmeros centros comerciais. Estive em três deles. As lojas são as comuns, sinais da globalização. Não falta o McDonald´s ou a Zara. O que mais me impressionou foi, aquele que dizem ser, o maior centro comercial da Transilvânia. Com pista de gelo e tudo. À semelhança dos maiores da Europa. Em Portugal apenas será comparado ao Dolce Vita Tejo ou ao Freeport. É é no interior dos centros comerciais que parecem dividir-se as classes. Pessoas bem vestidas e apresentáveis, bem diferentes da maioria que vemos na rua a pé. Estas, aposto, têm carro pessoal e compram, em muitas lojas, com euros. A preços europeus. Nada de pechinchas como na rua. Posso mesmo dizer que o preço do McDonald´s não varia na Roménia em relação a Portugal. E se na rua vemos que a marca predominante de automóveis é a Dácia já dentro do centro comercial as únicas marcas que se vendem são a BMW, Mercedes e similares. O fosso entre ricos e pobres é evidente.
Uma cidade bonita, sem grandes monumentos. Ainda assim a neve transforma-a e faz parecer que estamos numa cidade calma. Quando, à semelhança da capital, vive intensamente, pelo menos durante todo o dia.
A neve de Iasi parece esconder, ou dar outro brilho, aos bonitos jardins que rodeiam edifícios públicos como a Camara ou o Teatro Municipal. A fé é ortodoxa. As catedrais não têm bancos. Aqui reza-se de joelhos ou sentado na manta que se trás de casa. Nem por isso são menos imponentes estas catedrais que tocam o céu e, no interior, são repletas de bonitas pinturas a fresco.
Não é, de todo, uma metropole à medida das grandes cidades Europeias, mas é por isso que Iasi tem o seu lugar bem definido.
FOTOGRAFIA: © Cláudia Paiva, Dezembro 2012

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Na Linha De Iasi A Bucareste

em Bucareste, Roménia

A viagem é a mesma, mas ao contrário. O comboio é semelhante. Os passageiros não variam. Os típicos vendedores e pedintes continuam a entrar e a sair à medida que o comboio vai parando nas estações. Continua a não existir informação de paragem dentro do comboio. O revisor continua a usar chapéu. Nada parece mudar nesta segunda viagem, pelo menos dentro do comboio. Mas o facto é que algo aconteceu durante a semana de estadia em Iasi e que me fez falar de novo desta aventura ferroviária. E não foi o atraso do comboio, que fez esta segunda viagem demorar oito horas e meia, mais uma hora e meia que a primeira. A grande alteração está relacionada com o clima. Nevou em toda,  a Roménia e este acontecimento meteorológico tornou diferente toda a paisagem observada pela janela. Os descampados continuam, as fábricas e armazéns degradados também se mantiveram mas com um novo ar. A neve muda tudo. Não há palavras para descrever esta viagem que parece completamente diferente da primeira. E agora sim percebo o porque de me terem dito que a Roménia até era bonita fora das zonas urbanas.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Na Linha De Bucareste A Iasi

em Iași, Romania

São onze e meia da manha. O objectivo é apanhar um comboio com destino a uma das pontas da Roménia. A cidade chama-se Iasi e está localizada junto à fronteira com a Moldávia e é lá que vou participar, juntamente com outros jovens oriundos de vários países da UE, num intercâmbio cultural promovido e financiado, quase na totalidade, pela comissão europeia. Esta iniciativa que pretende misturar culturas chama-se juventude em acção e, esta em particular, está subordinada ao tema da reciclagem e reutilização de produtos.
A Gare do Norte, principal estação ferroviária da capital, parece velha, suja e pouco modernizada. Não vemos painéis electrónicos, anúncios de partidas e chegadas através de auto falantes, elevadores, escadas rolantes, túneis para ultrapassar as linhas. Parece que recuamos no tempo. O comboio tem a forma típica. Uma máquina com carruagens atreladas, nada de motoras ou modernices como o nosso Alfa Pendular. Este comboio romeno é mais parecido ao Intercidades português, mas com mais qualidades. A principal diferença entre eles é a existência de portas automáticas nas divisórias das carruagens que facilitam as passagens com malas.
Antes da viagem começar surgem inúmeros vendedores de revistas, incluindo títulos internacionais, escritos em inglês, como a National Geographic, por exemplo.
Depois de iniciada a viagem não tarda a chegada do revisor. De boina como se estivéssemos no Expresso do Oriente. O processo de validação dos títulos de transporte é exactamente igual ao português, sem problemas ou complicações.
Durante a longa viagem de sete horas o comboio pára poucas vezes. Umas seis ou sete, não mais. Mas em cada uma destas estações entra um novo vendedor ambulante que vai colocando os produtos que tem para vender em cima dos bancos que estão livres ou em cima das mesas individuais. Vendem-se dos mais variados tipos de produtos que vão desde chocolates a canivetes, cartas de jogar, porta-chaves ou até mesmo pequenas árvores de natal iluminadas. Tudo isto decorre com a maior normalidade, sem impedimentos.
As expectativas eram altas relativamente à paisagem. Foram várias as pessoas que me haviam dito que era bonita, com grandes planícies verdes, o que não é falso de todo, ainda assim não me pareceu surpreendente. Grandes planícies, de facto, com culturas muito semelhantes e difíceis de decifrar. O que mais se destacava na paisagem eram, de quando em vez, os edifícios abandonados. Grandes fábricas e armazéns que pareciam ser de ninguém, deixados à sorte, com vidros partidos e paredes a cair. Alguns queimados.
A viagem chega ao fim após sete horas do começo, no tempo previsto. Na saída da Gare, Iasi deixa a ideia que tem muito para mostrar.
FOTOGRAFIA: © Cláudia Paiva, Dezembro 2012

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Fria E Desarrumada

em Piaţa Victoriei, Bucareste, Romania
Bucareste não é uma cidade fácil. Em primeiro lugar porque não é fácil encontrar pessoas que saibam falar inglês. Ainda assim tem vantagens como o baixo valor da moeda em circulação, o Leu, o que torna todos os produtos bem mais baratos e torna as refeições bem mais acessíveis  Estive apenas umas horas na capital da Roménia, deu para tirar algumas conclusões, talvez erradas mas deu para perceber que Bucareste não é a cidade perfeita dentro da Europa. Somos constantemente abordados por sem abrigos, os passeios da rua não são constantes, em muitos casos temos que andar na estrada ou passar por zonas enlameadas e o trânsito não parece muito organizado. Há buzinadelas constantes, os engarrafamentos são habituais e são visíveis muita amolgadelas nas viaturas. A questão do inglês é também uma questão importante. No dia em que chegámos a Bucareste fomos comprar um bilhete de comboio para Iasi (uma cidade junto há fronteira com a Moldávia, que era o nosso objectivo final uma vez que era o local onde íamos fazer um intercambio cultural com putros jovens da União Europeia e Brasil). Esta compra nã foi fácil porque precisávamos de uma fatura para justificar o preço do bilhete para entregar na organização do evento em que íamos participar. Desde o momento em que tentamos pedir, pela primeira vez, a factura, até a momento efectivo em que a recebemos, passaram cerca de 90 minutos. Percebemos, na estação de comboios que os Romenos não têm muita preocupação com a primeira impressão do país. A estação de caminhos de ferro está velha e degradada. As paredes têm tinta a cair e um aspecto velho e degradado. O metropolitano é uma surpresa. Embora as estações também sejam velhas o comboio é moderno, veloz e muito barato, cerca de 90 centimos é preço que pagamos por duas viagens. Comer num restaurate é que parece difícil. Nas imediações doo hotel onde passamos a noite, junto à estação de caminhos de ferro, apenas encontramos restaurantes que servem na janela e o objectivo é levar a comida na mão e comer pelo caminho ou em casa. Os supermercado são uma pechincha. Comprámos comida para levar na viagem de sete horas de comboio, que nos ficou por menos de 10 euros. Embora tenhamos chegado à capital com alguns receios relativamente há segurança saímos impressionados com a polícia que era frequente nas ruas.
FOTOGRAFIA: Piata Victoriei, © Cláudia Paiva, Dezembro 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O Basófias Anda A Fazer Fintas Na Areia

em Coimbra, Portugal
Ainda se navega no Mondego. O Basófias é o barco que continua a fazer companhia às outras embarcações que por ali podem passear sem grandes problemas: as canoas da Académica. Mas o certo é que o mítico barco que deve o seu nome às águas que o acolheram em 1993 pode estar de saída. As condições de assoreamento não são as melhores e não há um passo em frente para que a situação se resolva. O Basófias encalha com frequência e, segundo informações dadas aos passageiros durante o passeio pelo rio de Coimbra, a profundidade de navegação varia entre os 75 centímetros e os 2 metros.
A empresa gestora já ameaçou com a saída para outras águas e, de acordo com o desenvolvimento da situação, parece mesmo que o Basófias vai conhecer outras marés, talvez com menos areia.
Este é um barco que mostra a cidade dos estudantes de baixo para cima. Talvez da forma menos elitista. Se por um lado a alta da cidade espelha a excelência do ensino superior, do conhecimento e da investigação científica, a zona navegável do Mondego olha de baixo, discretamente, para a Universidade de Coimbra.
Não é um barco histórico nem tão pouco, excelente do ponto de vista da sua construção estética. É um barco de turismo com tantos outros, com excursões frequentes cujos participantes se entertem a tirar fotografias com a Cabra em fundo ou a comer especialidades da região como é o caso do Leitão acompanhado de um bom vinho branco.
Aqui está a melhor forma de conhecer a cidade dos estudantes , a bordo do Basófias Coimbra tem muito mais encanto e fica a vontade de passar mais tempo em cima do Mondego. (Antes que seja impossível).
FOTOGRAFIA: © Cláudia Paiva, Novembro 2012