quarta-feira, 28 de março de 2012

Se Estiver A Divagar Pára De Escrever

Que as novas tecnologias ainda não são consensuais já todos sabemos, mas aquilo que ainda não sabemos é que um jornalista da escrita deve usar um bloco de notas em vez de um gravador quando faz uma entrevista.

A vantagem de se fazer uma entrevista para um jornal reside no objecto de captação de ideias do entrevistado. Pode parecer confuso mas na obra "A Entrevista Escrita e o Perfil", Henri Montant, explica tudo.
Um gravador, um microfone ou até mesmo uma câmara de televisão podem intimidar fortemente um interlocutor que não esteja habituado a dar entrevistas, assim o autor da obra de que vos falo diz que a melhor forma disto se resolver é com a utilização do bloco de notas, afirmando mesmo que "nada substitui a tomada de notas, inteligente, selectiva e atenta" e que o gravador se deve reservar a "entrevistas muito técnicas, cheias de números". Montant alerta também para a falibilidade de um aparelho de gravação audio que se pode avariar "ao contrário da inteligência e da atenção de quem toma as notas à mão". O mais curioso é que o autor da obra publicada, em português, em 2002 dá um conselho - No caso de o entrevistado começar a divagar o jornalista deve parar de escrever e pousar a caneta em cima da mesa.
Creio que um pequeno gravador em cima da mesa, discreto o suficiente, não vai deixar nervoso ou em pânico o entrevistado e assim o jornalista pode preocupar-se com as perguntas que preparou previamente e assim guardar os apontamentos para questões fracturantes que pretenda, ainda, ver respondidas nessa mesma entrevista sem que as tenha preparado, questões essas que vão surgindo no calor da conversa.

domingo, 25 de março de 2012

Censura Consentida(o)

A Censura à Imprensa na Época Marcelista de Arons de Carvalho


A censura é sempre vista como factor repressivo que condiciona a liberdade de expressão e de imprensa. Mas a história conta-nos que ser censurado já foi motivo de patriotismo, mesmo depois de voltas e reviravoltas na aplicação dos cortes.
Com a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial o governo, a 12 de Março de 1916, viu-se obrigado a dar poderes às autoridades policiais e administrativas para apreender qualquer publicação que visasse, nos seus artigos, questões relacionadas com a segurança interna e externa do país. 
O modelo de apreensão, como era expectável, não gradava aos directores dos jornais visados. Por este motivo o governo optou por instituir um modelo de censura prévia, medida que foi bem aceite pelos jornais já que se evitava a retirada do mercado das publicações.
Esta nova forma de censurar era bastante curiosa uma vez que os cortes feitos nos textos não eram substituidos. Assim o jornal era publicado com o espaço deixado em branco. 
No início, a vigência desta nova lei da comunicação social incidia principalmente sobre notícias de caracter militar. Entretanto, progressivamente, a acção de censura começa a alargar o seu âmbito e a incidir, também, em notícias relacionadas com incidentes no parlamento. Por outro lado não são censuradas as notícias que visam a própria censura, como é observável, por exemplo, no órgão A Luta que a 1 de Julho de 1916 publica um artigo intitulado "Onze Cortes" onde refere que a sua última publicação teve, precisamente 11 artigos censurados.
Apesar de todas estas abertas e liberdades no próprio acto de censurar, o descontentamento dos jornais começa a generalizar-se e as críticas são lançadas ao governo, agora ocupado pelo Partido Republicano Português. Com a irredutibilidade dos governantes os directores da maioria dos jornais começa a espicaçar e empolar cada vez mais os factos nas notícias e os cortes sucedem-se em maior número. E, na época, um jornal com muitos espaços em branco era, para o leitor, sinónimo de rigor na abordagem dos factos. Tudo isto leva a uma união das publicações periódicas o que se traduz no retrocesso da legislação que é reposta na sua origem. A censura passa, de novo, a recair apenas sobre artigos relacionados com a guerra.
Dois meses depois, demagogicamente, Sidónio Pais decide-se pelo levantamento da censura.
Mas as voltas da censura são intermináveis e 19 dias depois do radicalismo de Sidónio Pais, o ministro Machado dos Santos repõem os cortes prévios a artigos relacionados com militarismos e segurança interna.
A falta de rigor relacionado com a implementação da censura deixa os jornais descontentes e obriga a redução do âmbito da mesma.
Quando a guerra chega ao fim a liberdade de imprensa não é restabelecida imediatamente e o governo justifica a permanência da fiscalização, desta vez, com a ameaça da monarquia.
A Guerra tinha acabado e a monarquia estava controlada e a 28 de Fevereiro de 1919 é levantada a censura "por terem cessado as causas que determinavam o seu funcionamento", como refere o Diário de Notícias do dia seguinte (1.3.1919).